The dream

Hoje eu tive um sonho.

Eu estava em uma casa, que não era a minha. Era uma casa antiga, com móveis cor de madeira clara. Havia prateleiras, um tapete antigo, uma escada com corrimão. Nessa casa, tudo me lembra a cor de mel.

Perto de casa havia uma livraria. Igualmente madeira e igualmente antiga. Haviam muitos livros espalhados pelos muitos balcões. Pedi ao senhor um livro em específico. Ele me mostrou alguns sobre a mesa. Em seguida foi para um balcão enorme, e comecou a abrir as gavetas. Vi que o livro que pedi fazia parte de uma coleção com centenas deles.

Em um certo momento eu estava pintando uma capa de chuva, em casa Foi a pedido de meus pais. Minha mãe disse que era uma ocasião especial. A minha mãe não era exatamente a minha mae de hoje, mas dava para sentir que era minha mãe e algo mais. Assim como meus pais, e minha irmã. E meu meio-tio. Como almas fundidas às deles.

Eu estava triste, pintando a capa de chuva, pois eu havia perdido uma de minhas presas superiores. Ela caiu, puff. Eram presas compridas, mas não como a de vampiros. Eram simplesmente presas compridos e retos, como os dentes de um coelho.

Mesmo assim pintei a capa de chuva. Pendurei ela em um suporte no corrimão e chamei meu meio-tio para ver.

Na capa haviam todas as cores do mundo.

Ele olhou e disse: Nossa, está muito colorida!
Pedi para ele olhar mais de perto.

O que pareciam desenhos abstrados, de perto eram rostos. Inúmeros rostos, de gente que vive, de gente que se foi. De famosos e desconhecidos.

Era o mundo na capa de chuva.

Coloquei a capa, assim como minha família. Quando saímos, minha irmã reclamou. Ela esperava um jantar em um restaurante bacana, algo especial. E não sair com capa de chuva.
Minha mãe disse que era especial sim. E que ela não iria se arrepender.

Chegamos à um lugar parecido com o topo de uma montanha, que se estendia até o infinito.
Lá, todos pegamos escadas, extremamente compridas, com rodinhas em seus pés.

Subi em uma das escadas, até o topo, e enquanto minha mãe empurrava, eu via que o céu estava muito, muito próximo. Eu poderia tocá-lo com os dedos.

Era um céu lindo. Eram nuvens. O céu estava tomado de nuvens acinzentadas, mas ainda assim, coloridas, como uma aurora boreal. As nuvens eram extremamente densas, pareciam feitas de algodão velho, almas e sonhos.

Do céu saíam pequenos raios, amarelados, cor de luz.
Tive medo de tocar o céu e um raio me atingir.
Minha mãe disse que eu não precisava me preocupar.

Levantei o braço e enquanto a escada corria, eu tocava o céu. O toque era uma mistura de algodão macio e estática, sentia pequenos choquinhos, mas era gostoso. Como quando a gente toca aquelas lâmpadas de plasma.

Me estiquei bastante para ver uma nuvem próxima. Era um túnel de núvens, com raios escapando de todas as direções, para dentro do túnel. Foi a coisa mais linda que eu já vi.

Senti que eu era uma criança.

A escada parou, e foi encostada à uma parede de arames oitavados (como aquelas telas de proteção de janelas, de metal)

Olhei para a parede, e haviam várias estruturas de arame, paralelas, aos pares. Nessas estruturas, minúsculas peças, como pequenos resistores. Milhares de milhares deles.

Olhei para a minha mãe. Ela me ensinou a segurar os pequenos resistores e torcer, amarrando uns aos outros. Era extremamente importante fazer isso.

Pois aquele lugar era responsável por toda a vida no universo.

Por isso as escadas. Com paciência, ficamos lá amarrando as pecinhas, uma nas outras. Por horas. Meses. Anos.

Lá, o tempo não existia.

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A parte dois do sonho veio em seguida. Essa parte é curtinha.

Estava na casa de minha tia.

Haviam vários gatos, todos vira-latas.
Eu queria muito fazer carinho em um, mas eles eram arredios.

Até que se aproxima de mim um filhotão, preto e branco. Estendo a mão e vejo que o gato está sujo, muito sujo.
Ele começa a se esfregar em minhas mãos e vira de barriguinha para cima.
O gatinho queria muito, muito carinho.

Quando olhei minhas mãos haviam manchas de sangue. O gatinho estava machucado.
Tentei ver de onde eram, e haviam algumas feridas em seu corpo.

Continuo a fazer carinho, e o gatinho se transforma em um rapaz. Dá para ver algumas partes de sua camiseta rasgada, com as feridas aparecendo. Ele é branco, e tem cabelos pretos, curtos, mas abundantes.

Faço um afago em sua cabeça.

Ele se afasta um pouco.
Olho para ele e ele está tirando caca de nariz.
Olha para mim (com cara de quem foi pego no flagra) e joga a caca na boca.

Eu dou uma gargalhada.

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